

[caderno educativo]
Este é o nosso caderno educativo-artístico da exposição [Tudo que hoje me tornei foi inventado por mim um dia], primeira exposição virtual realizada pelo projeto MOVENTEMANGUE_ARTE, a parte das nossas já tradicionais movências.
Este material é um projeto em construção pensado para estimular a criatividade, engajar novas leituras e perspectivas, através dos relatos dos artistas participantes na exposição acerca de suas produções; junto às proposições de atividades e reflexões.
Aqui, propomos uma imersão para além do tradicional material expográfico, estimulando, através da arte-educação, novas experiências de contemplação, ensino e aprendizado.

"criaR TEMpO"
de
CLaRA MoreiRa
sobre a obra, a artista diz:
"eu crio e cultivo um tempo no avesso do tempo, um tempo inventado, um tempo anexado ao tempo, onde faço desenhos que duram décadas para serem realizados - depois do trabalho como funcionária pública e dos cuidados solitários com meus dois filhos pequenos, deito para dormir mas na verdade eu desperto para esse tempo outro que ninguém vê, pois acontece no avesso das vidas de todos, ninguém quer ver, pois não é bonito - não é bonito o bicho insone - mas o eco desse tempo ecoa à noite, perto do chão - algumas pessoas acham que são insetos de hábitos noturnos, mas sou eu desenhando.
esse desenho tem o meu tamanho, minha largura, minha altura. ele é grande, mas ele foi todo feito com uma lapiseira fininha, 0.05mm, como zunido, como costura."
(2023)
desenho em lápis
grafite sobre papel
2,10x1,30m
(fotografia reprográfica
de Danilo Galvão)

DoMeStiCAdO
sobre a obra, o artista diz:
'Domesticado apresenta inquietações sobre masculinidade, corpo e espaço.
A série fotográfica, produzida durante o distanciamento social provocado pelo Covid-19, ilustra as tentativas de encaixe desse corpo pouco domesticado nos cômodos da casa.
As imagens se contrapõem à iconografia do ser masculino como forte e heróico, denunciando as vulnerabilidades, os desencaixes dentro e fora da própria pele.
O ensaio ocupa as páginas desabitadas de um álbum antigo, ressignificando esse artefato tão doméstico e atrelado socialmente ao cuidado feminino."
de
MiChEL de 0LIveira
(2020)
fotografia digital/objeto
e videoarte
25x19cm / 2'56''
RequiéM
pAra oS Meus tRiNtA anos
de
MiChEL de 0LIveira
(2018)
fotografia digital
em porcelana
7 x 10 cm

sobre a obra,
o artista diz:
"no dia em que completei 30 anos, fiz um pequeno ritual particular: rapei toda a barba e o cabelo. Ao ver meu reflexo no espelho, me senti muito frágil e vulnerável. Decidi fazer autorretratos para registrar aquele momento. Dois anos depois, revisitando o HD, encontrei as fotografias e uma delas mexeu muito comigo: era um retrato muito realista do que eu nem tinha consciência na época: a depressão.
Decidi materializá-la, imprimindo em uma placa de porcelana, dessas utilizadas em lápides.Réquiem para meus 30 anos é uma obra motivada por um duplo simbolismo: ao mesmo tempo em que representa minha morte emocional naquele momento, é um paradoxal lembrete de esperança, para aquele período ser um registro morto do passado, pois jamais quero sentir aquele vazio outra vez."
DAs coiSas
QUe resiSTeM
de
MiChEL de 0LIveira
(2020)
fotografia digital
de retrato analógico
e erva-cidreira desidratada
20 x 20 cm

sobre a obra,
o artista diz:
"Quando retornei à roça onde minha mãe nasceu, depois de quase uma década sem ir lá, tive um choque: a erva cidreira plantada por minha avó há mais de meio século ainda estava viva. Não consegui entender como resistiu ao clima semiárido do sertão sergipano sem que ninguém cuidasse.
Ao voltar à casa da minha mãe, peguei o álbum de família para ver o retrato da minha avó, de quem não tenho lembranças porque ela morreu quando eu tinha dois anos. Então veio o segundo choque: o retrato havia desaparecido, alguém o usurpou do álbum sem autorização. Restou apenas uma fotografia desfocada do retrato que minha mãe fez com o celular.
"Das coisas que resistem" nasceu desses choques, decidi juntar esses rastros da minha avó materna para criar um relicário de reminiscências imprecisas, mas muito fortes, que entrecruzam a lembrança, o esquecimento e a potência ancestral da matriarca que resiste na fotografia evanescente pelo desfoque, na erva cidreira que sobrevive às intempéries e nos filhos, netos e bisnetos que são todos resistência e existência da mesma mulher, Dona Maroca."

SÉrie DeRivAs:
aBiSMO I, II & III
de
RoBSON XAviER
sobre a obra,
o artista diz:
"A Série DERIVAS consiste em um work in progress com trabalhos de pintura em acrílica sobre tela ou tecidos e/ou aquarela sobre papel, em dimensões variadas, iniciada em 2020-2021, durante a Pandemia do Covid-19, que aborda os corpos masculinos nus em paisagens imaginárias e bucólicas, refletindo sobre a condição do homem gay, diante do tempo, da solidão e da ausência de relações. Sua premissa abrange a contemporaneidade líquida e a condição dederivadas relações entre as pessoas LGBTQIAPN+."
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(2021)
acrílica sobre tela
70 x 50 cm (I)
68 x 48 cm (II)
68 x 48 cm (III)

no cRePúScULO eNcAnTado
Da metRópoLe,
eu seNtiA
uMa soliDãO FAnTasMaGóRicA
de
RAMoNN ViEiteZ
(2024)
óleo sobre tela
100 x 70 cm
São narrativas de autoconstrução. Há algo de mítico nesses traços, algo que evoca o indomável, o onírico como na pintura do cavalo azul — figura de força e liberdade. galopando entre o real e o imaginário em uma dança de cor e identidade
por Emy Figueroa


o NaSciMeNtO
do SOL
de
RAMoNN ViEiteZ
(2024)
óleo, tela de algodão,
folha metálica, alumínio,
resina e madeira
88 x 54 x 7cm / fechado
88 x 74 x 26cm / aberto
No tríptico, ergue-se um altar de símbolos, onde a subjetividade se torna sagrada. Cada traço, cada cor, cada sombra é um rito de devoção ao que fui, ao que sou. Memórias, desejos, pensamentos não mais efêmeros, mas monumentos
por Emy Figueroa
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RAMoNN ViEiteZ
A cicatRiZ iNTerIOR
(2023)
óleo, tela,
folha metálica
e madeira
105 x 101 cm
de
o fIM é o cOmeÇ0
(2024)
acrílica e waji
sobre madeira
90 x 70 cm
de
RAMoNN ViEiteZ

Na paisagem monocromática em azul, se cria um terreno fictício que parece cartografar paisagens, representando um lugar íntimo e imaginado, mas ancorado em desejos reais
por Emy Figueroa


ConsUELo Véa corOca
salVe vÉA!
+
a Véa Se DesfAZeNdo com cObRA CoRaL
+
A VÉA CARRaNcuDA
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(2024)
arte digital e grafite
dimensões variadas
de
"Foi em 2015 que a dor tomou forma quando minha senhora perdeu a mama. O silêncio da doença ecoava em mim, mas eu quis dar-lhe cor, dar-lhe rosto, dar-lhe voz num graffiti que nunca antes se viu.
Então pintei. Tracei nas paredes aquilo que o mundo calava. O câncer de mama tornou-se mural, denúncia, resistência, presença. Em 2016, meus olhos se voltaram para corpos à margem, silenciados. Corpos que nunca viam protagonismo, que não estampavam galerias, nem muros que passavam despercebidos, invisíveis. Então pintei. E eles se ergueram imensos, em cores que gritavam sua existência."
sobre a obra, a artista diz:
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A tua iMagem
de
AiKo hAtaYamA
sobre a obra, a artista diz:
"O contexto dessa produção coincide com o início da minha transição de gênero e retratam reflexos do que vinha se passando internamente em meu âmago .
Vicissitudes contundentes em momentos de fragilidade, não sabia direito como me encarar ou como me imaginar.
Desfigurada, rompida, frágilcrisálida em constante metamorfose, a face rompida em desarmonia com a gravidade. Apesar dos pesares, foi um estágio necessário para o amanhã.
Autofágica com meu próprio ser, hoje me remonto com peças passadas, descarto o que não interessa no meu pequeno castelo de cartas."
(2022)
aquarela, lápis de cor aquarelável
e gesso acrílico sobre papel
42,5 x 32,5 cm
(fotografia reprográfica
de Leonardo Bertrand)
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peiTaS
de
BrEndA BAzaNtE


sobre a obra, a artista diz:
"A série peitas é fruto da pesquisa que desenvolvo para representar as mudanças que tanto eu, quanto outras mulheres trans e travestis fazem em seus corpos, após a transição do gênero compulsório masculino, para a identidade trans feminina.

Nesse contexto, os seios, ou peitas, como eu decidi chamá-los nessa série, são uma importante área do corpo quando pensamos nesse novo corpo que queremos expor. Seja por meio de terapia hormonal ou por meio de implantes de próteses de silicone, muitas mulheres trans e travestis fazem intervenções para aumentar o tamanho de suas peitas.
Devido a inúmeras complicações conhecidas pelo uso de silicone industrial, essas duas formas de modelar o corpo, pouco a pouco, passaram a ser mais utilizadas para garantir uma silhueta mais feminina. Apesar dos problemas de saúde trazidos pelo uso incorreto e excessivo de hormônios e do alto custo do implante de próteses, essas formas são as indicadas pelos profissionais de saúde e atualmente usadas pela população trans brasileira.


Dito isso, no primeiro momento da série peitas, represento o desejo de ter peitas grandes. Sendo um desejo comum a todas nós, a vontade de ter peitonas encontra referência no visual amplamente veiculado pela mídia: mulheres magras, com cinturas finas, bem maquiadas, com cabelos lisos, loiros e longos e seios fartos e firmes. No pós transição, tal imagem representava a mulher que queria me tornar.
Hoje, passados quase vinte anos desde o momento em que me entendi como mulher trans, não tenho peitonas e mantenho os seios maturados pela terapia hormonal. Decisão que se fortaleceu com os estudos de gênero e a perda gradual do referencial acima mencionado.
No entanto, não descartei totalmente o desejo de ter peitonas. Com isso, criei estas cinco pinturas, retratando tanto o meu, quanto os desejos de diversas mulheres trans e travestis que hoje decidem ter peitonas porque se sentem bonitas com esse visual, e não atendendo a uma norma de gênero."
(2025)
giz pastel oleoso sobre papel,
21 x 29,7 cm (I-IV)
42 x 59,4 cm (V)


MARia
de
MavinuS
(2025)
acrílica e bordado sobre tela
70x80cm
As Marias estão em cada esquina com olhos carregados de histórias. São Marias de todos os tempos, tecidas por uma força, invisível e eterna, que atravessa gerações.
Em suas mãos, muitas vezes, carrega-se o peso de jornadas invisíveis. Porém, um passo após o outro, elas se reinventam e a memória de suas lutas e triunfos nunca se apagará.
por Emy Figueroa

tRaNspARenTE
de
LOReNa FaLcÃo
+ WaLtoN RibEiro
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sobre a obra, a artista diz:
"A questão de gênero sempre esteve presente em meus questionamentos, porém dediquei o início da minha carreira artística para investigar e entender o meu corpo enquanto pessoa com deficiência, o que me gerou vários resultados e descobertas positivas. Nos últimos tempos vim traçando uma jornada de autocompreensão como mulher trans.
[...] Desde pequena, me interesso por filmes, séries e músicas fora do padrão heteronormativo, atraída pela cultura queer, no entanto, consumia esses conteúdos em segredo, pois ainda não havia me “assumido”. O medo da reação dos pais tornou esse processo doloroso, o que gerou um evitamento da abordagem do tema, e me levou a nunca realizar trabalhos explorando esse universo. O que mais me fascinava era a liberdade de expressão, especialmente a forma como pessoas que não foram designadas no sexo feminino ao nascer podiam expressar a suas feminilidades.
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[...] Embora não quisesse que meus pais soubessem, eles descobriram; minha mãe me recebeu com preocupação, mas com carinho; para minha surpresa, meu pai, com quem temia conversar, foi ainda mais receptivo. Eu lembro do momento específico em que meu pai chama a minha mãe para o quarto e diz: “Demorou, mas LORENA chegou!”
[...] Por mais que esse processo tenha sido agitado, foi extremamente necessário para que pudesse me ver de verdade enquanto mulher. Hoje minha pesquisa gira em torno justamente do desejo de “florescer” e explorar no campo artístico a minha realidade enquanto pessoa transfeminina, da necessidade de ver arte que exalte esse grupo dissidente do qual faço parte - surge a necessidade de explorar o que não podia explorar.
Afinal, hoje com apoio da minha família e do meu ciclo de amizades, sendo aberta e publicamente uma pessoa transfeminina, ciente dos meus direitos, sinto-me confortável para pesquisar e produzir a respeito. Sinto-me confortável para criar trabalhos nos quais posso externalizar tudo que sempre sonhei ser, afinal, tudo que hoje me tornei foi inventado por mim um dia.
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[...] A performance reúne uma série de elementos que uso diariamente para expressar meu gênero, exibir minhas vivências, inseguranças e desejos enquanto mulher trans/travesti, como perucas, calcinhas para aquendar, brincos e as incontáveis lâminas de barbear, ao mesmo tempo em que pairo enquanto modelo vivo para as outras pessoas desenharem.
É uma investigação de um processo de transubstanciação.
[...] O produto é um reflexo da minha identidade, do eu, mas também de uma realidade de muitas. (...) Ocorre um processo de investigação a partir da vivência da outra, ao mesmo tempo em que é feito o exercício de olhar para o espelho e me encontrar com a minha própria imagem.
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(2024)
fotoperformance / fotografias digitais, de Walton Ribeiro

A VOZ DO
RiO TAPaKuRÁ,
a Nossa vOz
BreNDa S0uZa
+ TainÁ MaíVys
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sobre a obra, a artista diz:
"Hoje, com meu próprio equipamento, tenho a liberdade de esta e ocupar os espaços que adentram a minha arte é minha essência como fotógrafa. Meu amor pela fotografia transcende um nicho fotográfico e por isso, estou sempre me envolvendo em vivências que me permitem me descobrir cada vez mais como ser humano e artista, além de dizer tudo sobre meus princípios.
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Minha motivação para a produção desses registros fotográficos diz muito quem sou. Minha arte conversa diretamente com meus princípios políticos e para além, minhas vivências, pesquisas, ancestralidade, raça, um todo que sou e busco desconstruir para construir.
Topar fazer parte desse projeto de Tainá, colaborando como fotógrafa, foi apenas mais um dos desafios que me coloco, principalmente se ele, para mim, dizer muito do que eu acredito que deve ser sentido e exposto pela arte."

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(2024)
fotoperformance