Em meio aos altos e baixos das marés, nossas raízes aéreas voltam à superfície, mostram ser nosso sustento no solo inconstante desse manguezal.
São elas que nos nutrem de volta com nossos sonhos ancestrais, pois é olhando para dentro que enxergamos melhor quem nós somos, quem fomos, quem seremos e o que carregamos adiante, instante após instante, na infindável espiral do tempo.
Assim, correndo livremente por entre a vereda das memórias, alcançamos e damos as mãos àqueles que vieram antes de nós.
Quais as histórias que suas lembranças guardadas têm a nos contar?
Ouvindo atentamente, podemos escutar tudo o que ainda temos a aprender e a ensinar, carregando adiante os nordestes que pudemos mapear, os rizomas que pudemos ramificar e as matrizes que nos permitiram chegar até aqui.
Entre o que é lama e o que é barro, a imensidão dos nossos próprios mangues, a arte de sermos caranguejos moventes e uma ode aos sonhos que nos antecedem.
integram
esta movência:
Cadu Araújo
Camila Cantil
Carol Mota
Eliú Damasceno
Flávia Lira
Gabriel Dionísio
Jocy Junior
L. Henrique Wanderley
Larissa Eduarda
Lord
Maria
Marcos Alberto
Naiane Pinto
Nara Gual
Sandro Drumond
Sarah Nazareth
Shavanna
Zinid
os lares que habito
Camila Cantil
Recife - PE
ensaio visual, 21 x 29,7 cm
(segunda versão) 2022
As produções aqui apresentadas integram parte da minha pesquisa de 2020 a 2021: “A influência da memória e o imaginário na produção do autorretrato”, com bolsa do CNPq e que se desdobrou no meu TCC “Os lares que habito: memória e autorretrato”.
Meu processo criativo, em sua maioria, está intimamente ligado à memória. A série “Os lares que habito” fala daquilo de que sou feita e das memórias que me habitam, sejam elas advindas de lugares de amor ou de dor.
Habitar o mundo é uma experiência de visitar e ser visitada por outros, aqui remetendo à escritora Liliane Prata. “Os lares” a que faço menção nos desenhos são uma fragmentação do meu próprio eu, que é constituído por vários outros “eus”, ou melhor dizendo, há nas imagens e no texto referências, em forma de metáforas, ao outro da minha família, o outro do meu círculo de amigos, o outro dos livros que li, as músicas que ouvi, os sonhos e devaneios que já tive, outros e mais outros tantos afora... de antes e depois de mim.
acompanhe a artista em @camila.cantil
Zinid
Kruarã
fotoperformance, 2021
concepção e execução: Zinid
captação de imagens: Rafael Setestrelo
KRUARÃ que traduzindo do KARIRI significa pessoa amarela, é a experimentação em fotoperformances utilizando-se do corpo do artista como suporte principal.
Esta série questiona o apagamento da memória social e cultural dos habitantes nativos da Baixa Verde (atual Triunfo) e da ascenção da cultura eurocentrada, através do ser enigmático da Cultura popular triunfense, o Careta de Triunfo. Bem como, também questiona a perda do território do povo indígena KARIRI, com a chegada da produção agrícola de cana-de-açúcar e café.
Triunfo - PE
acompanhe o artista em @zinid.joao
fragmentos do livro de poesias infinito
Cadu Araújo
UM PUMA SOBRE A TERRA
Sou eu, um puma sobre a terra,
mediando a coral no interior
e ao céu, o pássaro observa
atento aos perigos da fera.
Protetor do ignoto mundo
ocultado por seres mutantes
na transfiguração do xamã
e na alma que transcende o espaço.
Sobrevivo de um tempo escasso
de um pensamento extenso
nas teias da vida,
de reencontros,
da eterna combustão do ser.
Ceará-Mirim - RN
SOMOS
Que desperte agora nosso ancestral
Adormecido dentro de nós.
Espíritos atentos
Com maracás nas mãos:
É a resistência potiguara.
Temos a força das nações guerreiras
Somos Riachos, serrotes,
grutas e capoeiras.
Estamos aqui por eles,
Meus ancestrais e meu torrão.
Somos, somamos e assumimos:
Potiguaras em luta
Até o último silêncio.
CANÇÃO DAS ONDAS
Acabo de ver com meus olhos
E meu coração em presença
O espírito do ar, vaguear
Devagar, serpenteando
Por sobre a praia.
Vi o sol se enroscar no mar
Mar que espalma a areia,
Num vento que ama o mar,
Como o mar ama a lua cheia.
Procurei palavras nesse instante e preferi calar dentro de mim deixando me atingir as ondas de dias sem tempo.
Assim se fez um só, naquele instante
Eu, o mar, o vento, a terra
E toda chama que nos habitam.
A canção das ondas
Me levou ao oceano
Subindo pelo pôr do sol
Ao encontro do meu céu.
acompanhe o artista em @caduaraujo1
objetos transitórios
Sarah Nazareth
Recife - PE
fotografias digitais, 2020
Ao falar de um objeto material, evocam-se também as sensações que se relacionam com a vida de quem os possui.
Toalhas de mesa carregam as memórias de tantas infâncias e almoços de domingo. Os filtros de barro são uma fonte de vida. Cada objeto se ressignifica de acordo com as vidas que dividem o dia-a-dia.
Imagens de santos e fotografias guardadas como o sagrado que elas representam, objetos herdados pelos ancestrais. Essas imagens são, além de objetos, símbolos de uma história que teima em resistir nas casas.
acompanhe a artista em @sarahnazarethh
(a)parente memória
Sandro Drumond
Recife - PE
fotoperformance, 2019
registros por Renata Brilho
Faz mais ou menos 5 anos que venho refletindo e vivendo experiências de morte, aqui entendida de forma polissêmica, já que é um conceito utilizado singularmente em várias linguagens e grupos culturais. Ela pode significar, por exemplo, “falecimento físico”, “violência”, “processo de ruptura”, “esvaziamento” e “invisibilidade”. Confesso que venho experimentando cada uma dessas situações e que a partir dessas instâncias, desloco minha poética para um espaço que é uno e múltiplo.
Essa localidade é abundante em salubridade, pois é ali que pontos e laços são tecidos e as águas que formam a existência são encontradas. Andar para dentro com a certeza que ali está a saída é uma assertiva que pressupõe buscar os dispositivos entre percepção e lembrança para que sejam narradas memórias de fertilidade, fortalecimento e de vida.
Assim, “(A) parente memória” é uma fotoperfomance, realizada em 2019, proveniente de um olhar intimista sobre a Mãe e o Pai. São retratos que não apresentam descrições literais, pois as memórias contidas não servirão para informar o que é/foi vivido. Elas estão dimensionadas na superfície e no mergulho pessoal de uma vida adulta melada de infância. As aparentes memórias são imagens costuradas por várias outras. Do que forma Pai e Mãe. E seus ancestrais. Os meus ancestrais.
acompanhe o artista em @drumondsandro
as cores
do desa(feto)
Shavanna
aquarelas, 2022
tamanhos e títulos variados
clique em cada imagem para conferir a série completa e mais detalhes
As cores do desa(feto) nasceu da necessidade de denunciar violências veladas cometidas dentro do ambiente familiar, de geração em geração, consideradas normais por serem comuns, através da metáfora da ardência.
Trago o arder como uma nervura que atinge e modifica o ser afetado pelo desafeto, que aos poucos perde o morno e torna-se aquilo que lhe impuseram desde o ventre, violento.
[clique e arraste as imagens para remontar e reorganizar as pinturas da série]
Recife- PE
acompanhe a artista em @shavannaluiza
Carol Mota
raízes
fotografia
digital, 2021
Olinda - PE
Documentar a existência de quem veio antes de mim, é fortalecer laços, valorizar as raízes que me sustentam e me fortalece todos os dias.
Na fotografia, as mãos de minha mãe e tia, irmãs, mulheres fortes que admiro. Caberia alí muitas outras mãos, mas diante do contexto de pandemia registro de perto quem divide o espaço comigo.
acompanhe a artista em @moota_c
consequências da guerra
Recife - PE
Maria
calcogravura, 2022
"Consequências da guerra" é uma reflexão sobre como um evento que perdura em países europeus atinge diretamente famílias mais pobres brasileiras. Usando como exemplo a família da artista e a produção de pão, uma vez que um dos produtos mais encarecidos desde o início da guerra na Ucrânia foi a sua matéria prima, o trigo. Recentemente obrigando-os a fechar o seu pequeno comércio.
acompanhe a artista em @kkmariia