o espaço das pálpebras
entre um piscar de olhos
Athilyane
Recife - PE
ensaio poético-visual, 2022
Não são as planícies
a terra ou o asfalto
Não são as superfícies rígidas
dos teus dentes areados
Não é o quadro em que escreves
nem o queimor do respirar ofegante
O que me interessa
ninguém consegue ver
Entranhas ansiosas,
o espaço das pálpebras entre um piscar de olhos,
a confusão aqui embaixo após o abraço,
o contato côncavo entre dois continentes,
a saudosa paysage de tua nuca.
Sinto aquela sensação abissal do vazio
é sobre ela que quero escrever
é sobre o absurdo dos silêncios
é sobre o frio e o calor con-fusos
é apesar do virar de páginas
Escrevo sobre a absurdidade que em nós ecoa
Aquela que nos sufoca ou nos liberta.
quem vai nos lembrar de nós?
E quem roubou nossas memórias?
Gabriela Almeida
Recife - PE
bordados em autorretratos
impressos em papel couche, 2022


hermenêutica
do natural
Tássio Melo
Jaboatão dos Guararapes - PE
instalação em técnicas e suportes variados, 2022
nu explícito
de minhas atitudes
Gabriel Dionísio
Jaboatão dos Guararapes - PE
aquarela sobre papel, 2021
![[Nu explícito das minhas atitudes, 2021]
Gabriel Dionísio,
Aquarela sobre papel
14,8 x 21 cm](https://static.wixstatic.com/media/3c152a_4b5906145fbe43f6a4d8701122864b48~mv2.jpg/v1/fill/w_927,h_632,q_90,enc_avif,quality_auto/3c152a_4b5906145fbe43f6a4d8701122864b48~mv2.jpg)
![[Nu explícito das minhas atitudes, 2021]
Gabriel Dionísio,
Aquarela sobre papel
21 x 14,8 cm](https://static.wixstatic.com/media/3c152a_59d2fa56e2c945e4b1e31c2a0f8e77bb~mv2.jpg/v1/fill/w_434,h_632,q_90,enc_avif,quality_auto/3c152a_59d2fa56e2c945e4b1e31c2a0f8e77bb~mv2.jpg)
pescaria
Célio Amaral
Paulista- PE
poesia, 2022
Quando na infância
me deitava no sofá
e passava ali minutos,
ao instante de me levantar
uma lacuna em meu espírito
tomava a forma de um “Por quê?”
Depois cresci,
num piscar de olhos do universo,
sem até pouco tempo saber,
imaginar,
que viver teria disso:
cair, querer parar,
parar, permanecer,
misturar, colar
a pele com a matéria
dos assentos;
esquecer de chorar,
esquecer de mentir,
deitar deitar deitar,
dormir dormir dormir,
até esquecer de respirar
e num dia, pois, de si esquecer!
Certo é que alguma hora eu me levanto.
Não me reprimo, no entanto:
se de metal inquebrantável
forjassem um arco, um gancho,
que me fisgasse pela carne,
que se afundasse
em pleno peito e sono sangrento;
se daí me puxassem,
por amor ou por sadismo
(e em que se diferem ambos,
em tantos momentos?),
eu agradeceria imensamente,
se essa alma dada e boa
rompesse o inexistente,
eu cairia por terra,
eu a louvaria de joelhos.
pesar
Aiko Hatayama
Recife - PE
aquarela, lapis de cor aquarelável e gesso acrílico sobre papel, 2022
